A declaração do deputado Yglésio (PSB) de apoio à reeleição de Jair Bolsonaro (PL), seguida pela tentativa quase desesperada de aproximação com o presidente, serviu para lembrar o eleitorado médio de como o jogo político pode ser surpreendente.
Eleito em 2018 pelo PDT, depois de uma passagem de seis anos no PT, Yglésio já foi uma voz crítica ao presidente Bolsonaro na Assembleia Legislativa (Alema), a quem se referia como “estrupício”. Médico por formação, Yglésio condenou em diversas ocasiões a atuação irresponsável do presidente no combate à pandemia de Covid-19.
Em um tweet de 2020, o deputado escreveu: “Vamos esquecer o vídeo do estrupício do Bolsonaro e vencer a pandemia aqui, onde tem gente morrendo pra caramba e os casos do interior só aumentam”.
ATUALIZAÇÃO: Após a publicação inicial deste artigo, o deputado Yglésio excluiu os tweets críticos ao presidente Jair Bolsonaro que veiculamos no texto. Segue, abaixo, o print dos tweets que foram excluídos pelo deputado.
Em outra postagem, Yglésio listou um “passo a passo para não matar pessoas nem a economia” com a seguinte recomendação: “Desconsidere o Bolsonaro. Ele consegue estragar até as coisas verdadeiras com a forma tosca de ser”. E ironizou os eleitores do presidente: “Acabou o pronunciamento do Jair Bolsonaro. O gado já pode começar a gritar ‘MITOOOOOO’”.
O que teria motivado no deputado essa mudança tão radical de julgamento sobre o presidente “estrupício” – a ponto de fazer Yglésio se espremer entre um grupo de apoiadores para conseguir chegar perto de Bolsonaro (e lhe presentear com uma camisa do Moto Club) na última visita do presidente a São Luís?
Ao que tudo indica, Yglésio não superou o ressentimento por não ter recebido o apoio que julgava merecer do grupo liderado pelo ex-governador Flávio Dino (PSB) no Maranhão.
Em 2020, quando ainda fazia parte da base governista, e saiu candidato à prefeitura de São Luís, Yglésio amargou a oitava colocação sem ter Dino em seu palanque – o então governador não declarou apoio a ninguém no primeiro turno porque ao menos quatro candidatos (Duarte Jr., Bira do Pindaré, Neto Evangelista e o próprio Yglésio) faziam parte da sua base na Assembleia.
Yglésio, deputado de primeiro mandato, sabia que a sua eleição era muito improvável, mas queria usar o pleito para fortalecer o seu nome na capital, e ficou magoado por não ter recebido qualquer gesto de Flávio Dino.
Ao justificar o voto no presidente Bolsonaro, Yglésio também reclamou da falta de apoio do PSB à sua campanha e afirmou ter sido vítima de uma perseguição política comandada por Dino.
O curioso é que o deputado, agora totalmente convertido ao bolsonarismo, tenha esperado o segundo turno para declarar apoio ao presidente. É que Yglésio sabia que uma declaração pró-Bolsonaro antes do primeiro turno seria, no mínimo, perigosa para a sua reeleição.
Yglésio está convencido de que não conseguirá ocupar espaço de protagonismo no campo progressista maranhense, que tem em Flávio Dino a sua maior liderança, e agora quer herdar os votos bolsonaristas no Maranhão.
O objetivo é construir uma relação de proximidade com o presidente Bolsonaro e ser visto como o seu principal representante no estado. Yglésio se julga muito mais capacitado para herdar os votos bolsonaristas do que Lahésio Bonfim (PSC) – ex-prefeito de São Pedro dos Crentes que conseguiu 857 mil votos como o candidato bolsonarista ao governo do Maranhão.
O primeiro teste de fogo de Yglésio será em 2024, na disputa pela prefeitura de São Luís.
Resta saber por quanto tempo o deputado vai tentar manter a imagem de político independente. Bolsonaro já deu provas de que não aceita opiniões divergentes, e que qualquer um que quiser o seu apoio terá antes que rezar segundo sua cartilha.
Teremos mais um defensor do voto impresso no Maranhão?