Enquanto terroristas bolsonaristas invadiam a sede dos Três Poderes em Brasília, no dia 8 de janeiro, deixando um rastro de destruição pelo caminho, a pastora e deputada estadual Mical Damasceno (PSD-MA) acompanhava a tudo em tempo real pelas redes sociais – onde as imagens, feitas pelos próprios golpistas, estavam sendo amplamente divulgadas.
Uma das bolsonaristas mais devotadas e agressivas da Assembleia Legislativa do Maranhão, sem qualquer pudor de atacar minorias em “defesa da família e dos valores cristãos”, Mical Damasceno ficou tão empolgada com o que viu, que recorreu às maiúsculas ao compartilhar um dos vídeos dos terroristas que atacavam a democracia brasileira. E escreveu:
“ESPLANADA DOS MINISTÉRIOS FOI TOMADA PELA POPULAÇÃO INSATISFEITA COM O GOVERNO VERMELHO! O POVO ASSUMINDO O PODER”.
Mical Damasceno.
A frase pegou mal – afinal tratava-se de uma parlamentar democraticamente eleita aplaudindo abertamente um ataque golpista contra a democracia do país –, o que obrigou Mical a apagar o vídeo logo em seguida e a lançar uma daquelas notas em defesa de “manifestações pacíficas”.
“Discordo totalmente sobre qualquer ato de vandalismo”, escreveu Damasceno num tweet.
É mentira.
Mical, assim como o ex-candidato a governador Lahésio Bonfim, aplaudiu os golpistas de Brasília que invadiram o Congresso, talvez convencida, do mesmo modo que os fanáticos que depredavam o patrimônio público, de que seria possível reverter o resultado da eleição no grito, e trazer Bolsonaro de suas férias nos Estados Unidos – de onde, entre um passeio e outro, ele conspira contra o nosso Estado Democrático de Direito – direto para a presidência da República.
A postura da deputada motivou a criação de um abaixo-assinado pedindo a cassação do seu mandato. Criado pelo professor Wesley Sousa, até a publicação deste artigo o abaixo-assinado já contava com quase 2.500 assinaturas.
O advogado Thiago Viana foi outro que reagiu à Mical, e protocolou, na Assembleia Legislativa do Maranhão (Alema), uma representação por quebra de decoro parlamentar, também pedindo a cassação do mandato da deputada. Sobre esse pedido, em nota ao portal Imirante, a parlamentar ironizou: “A representação protocolada não passa de uma aventura jurídica promocional”.
Ainda no dia 8 de janeiro, a Alema divulgou uma nota de repúdio, assinada pelo presidente da Casa, deputado Othelino Neto (PCdoB), afirmando que “em um ambiente democrático, toda e qualquer manifestação de caráter golpista e autoritária merece o nosso mais profundo repúdio”. A nota ignora que uma das deputadas da Alema apoiou com entusiasmo o ataque golpista em Brasília.
Até o momento, o deputado Othelino Neto não comentou a atitude de Mical Damasceno. O presidente da Alema também não deu qualquer declaração sobre os pedidos de cassação feitos contra ela. Wellington do Curso (Podemos), que preside a Comissão de Ética da Alema, também não comentou o assunto.